Capricho Espanhol, op. 34

Nikolai RIMSKY-KORSAKOV

(1887)

Instrumentação: Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, cordas.

 

No dia 28 de fevereiro de 1887 (dia 16 no antigo calendário russo), Rimsky-Korsakov era acordado pelo crítico Vladimir Stasov com a notícia de que Borodin havia falecido na noite anterior. Ele correu para o velório e acabou recebendo, da viúva, os manuscritos musicais do amigo. Com a ajuda de Glazunov, empreendeu a longa tarefa de colocar em ordem, orquestrar, concluir e preparar, para edição, toda a herança musical de Borodin. A obra que mais lhes interessava era a ópera inacabada Príncipe Igor. Ambos decidiram, de comum acordo, compor as partes faltantes e Rimsky-Korsakov concluiria a orquestração da ópera. O contato íntimo com a obra de Borodin acendeu a inspiração que há muito lhe escapara. Enquanto passava as férias do verão de 1887 às margens de um lago no distrito de Luga, a 140 quilômetros ao sul de São Petersburgo, orquestrando Príncipe Igor, Rimsky-Korsakov compôs o Capricho Espanhol, op. 34, a partir dos esboços de uma peça para violino e orquestra sobre temas espanhóis que ele havia abandonado. A nova obra, segundo suas palavras, “deveria brilhar graças ao virtuosismo orquestral”, uma vez que agora se tratava não mais de um concerto para violino, mas de uma obra escrita apenas para orquestra.

 

A composição foi completada no dia 4 de agosto, e a estreia se deu em 17 de dezembro, no quinto concerto da série Concertos Sinfônicos Russos, mantidos pelo mecenas Mitrofan Belyayev, sob a regência do compositor. O concerto foi um sucesso, e o Capricho Espanhol se manteria como uma das peças favoritas das salas de concerto mundo afora. Logo no primeiro ensaio, os músicos começaram a aplaudir o compositor assim que terminaram a execução do primeiro movimento. Foi com dificuldade que Rimsky-Korsakov conseguiu que ensaiassem a obra completa, pois que os aplausos se repetiam ao final de cada movimento. Por fim, ele propôs dedicar a obra aos músicos da orquestra, proposição prontamente aceita por todos.

 

O Capricho Espanhol é composto de cinco movimentos. O primeiro, intitulado Alborada, é uma dança viva e festiva. Nela, o clarinete alterna com a orquestra na apresentação do tema. Uma breve cadência de violino fecha o movimento. No segundo movimento, Variazioni, diversas seções da orquestra apresentam variações da melodia inicial da trompa: cordas, corne inglês, violoncelos… O terceiro movimento, Alborada, é praticamente idêntico ao primeiro. Desta vez o violino solo faz o papel que o clarinete fez no primeiro movimento, e vice-versa. O quarto movimento, Scena e canto gitano, inicia-se com o tema nos trompetes e trompas. Possui quatro cadências (violino solo, flauta, clarinete e harpa), alternadas, aqui e ali, pelo tema. Ataca-se, sem interrupção, o quinto movimento, o Fandango asturiano, uma dança alegre e frenética. À medida que nos aproximamos do final grandioso, a orquestra executa trechos da Scena e canto gitano e da Alborada.

 

Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.

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