Concertino para oboé, fagote e cordas

João Guilherme Ripper

(2013)

Instrumentação: cordas.

 

Um dos mais bem-sucedidos compositores de sua geração, o atual presidente da Academia Brasileira de Música, João Guilherme Ripper, não apenas colabora com as principais orquestras e grupos musicais do país, mas também tem destacada atuação como professor e gestor cultural. Estudou na Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com Henrique Morelenbaum, Ronaldo Miranda e Roberto Duarte, antes de tornar-se, em 1988, professor de composição, harmonia e análise. Sob orientação do violinista e compositor Helmut Braunlich e da musicóloga Emma Garmendia, doutorou-se em Composição musical pela The Catholic University of America, Estados Unidos. Dirigiu a Escola de Música da UFRJ entre 1999 e 2003 e a Sala Cecília Meireles, de 2004 a 2015, ano em assumiu a presidência da Fundação Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Em reconhecimento à sua diversificada produção musical e competente atuação como gestor cultural, Ripper recebeu, em 2017, o Prêmio Especial pelo Conjunto da Obra da Associação Paulista de Críticos de Artes.

 

Embora consagrado compositor de óperas, Ripper expressa-se através de gêneros sinfônicos com igual inteligência musical e força poética. E se as obras concertantes se destacam em sua produção sinfônica, o oboé parece despontar como um solista dileto; assim nos sugerem obras como a premiada Matinas (1996), para oboé e orquestra de cordas, a Abertura Concertante (1999), para oboé, corne inglês e orquestra, e o Concertino, para oboé, fagote e cordas. A recorrência do oboé como solista, bem como o apreço do compositor por concertos duplos, reflete seu gosto confesso pelo “trabalho de construção melódica e jogo polifônico (…) necessário para a criação de melodias secundárias e do acompanhamento”.

 

O Concertino para oboé, fagote e cordas é o resultado da orquestração do primeiro e do terceiro movimentos da primeira obra da série From my Window. Essa série, produzida durante a residência de Ripper na Kean University, entre 2011 e 2012, compreende três obras que representam, segundo o compositor, um momento de reavaliação de suas experiências artísticas e de suas tendências estéticas prévias. From my Window nº 1, para oboé, viola ou fagote e piano, evoca, em três movimentos, elementos tipicamente cariocas: as pedaladas pela orla, o pôr do sol e a Bossa Nova. Orla, primeiro movimento do Concertino, explora a fluidez de dois temas complementares a partir de uma ideia modificada de forma sonata. Já Bossa-nova, o segundo movimento da obra, remete-nos ao celebrado gênero musical brasileiro por meio de seu tonalismo estendido e elementos rítmicos característicos. A obra foi estreada no dia 7 de março de 2013, no concerto de abertura do Oboefest, na cidade de Rosário, Argentina, pela orquestra do festival, tendo como solistas o oboísta Luis Carlos Justi e o fagotista Aloysio Fagerlande. Ao retratar musicalmente o Rio de Janeiro, o Concertino retrata ainda o desenvolvimento musical do carioca João Guilherme Ripper, uma vez que redesenha, com os traços de uma linguagem musical madura, suas origens musicais e sua iniciação na composição através da música popular, do jazz e da Bossa Nova.

 

Igor Reyner
Pianista, Mestre em Música pela Universidade Federal de Minas Gerais e Doutor em Literatura pelo King’s College London.

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