Concerto para orquestra nº 1, op. 116

Marlos NOBRE

(2011 | estreia mundial no concerto da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais no dia 28 de julho de 2016)

Instrumentação: Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 3 clarinetes, clarone, 2 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, piano, celesta, cordas.

 

Um dos compositores brasileiros mais executados no mundo, Marlos Nobre inaugurou sua carreira composicional em 1959 com o Concertino para piano e orquestra de cordas. Pela obra, recebeu o prêmio Música e Músicos do Brasil, concedido pela Rádio MEC. Mudou-se para a Argentina em 1963, para um curso intensivo de dois anos no Instituto Torcuato Di Tella com Alberto Ginastera. Naquele ano, compôs o politonal e, por vezes, dodecafônico Divertimento para piano e orquestra. Em 1969, Marlos Nobre estreou mais um concerto: o Concerto breve para piano e orquestra. De forma livre e caracterizado pelo uso de clusters (acordes compostos de um conjunto de notas adjacentes), o Concerto breve redirecionou não apenas a estética de Marlos Nobre, como também a música de concerto brasileira, que, à época, encontrava-se presa a estruturas tonais e às fórmulas clássicas do nacionalismo musical. O fascínio pelas formas concertantes levaria Marlos Nobre a compor ainda mais uma dezena de obras do gênero.

 

O Concerto para orquestra nº 1 foi composto por encomenda do maestro José Antonio Abreu, criador do El Sistema, programa venezuelano de orquestras jovens. Embora terminada em 2011, a obra jamais foi executada. A opção pelo gênero concerto para orquestra advém de uma combinação entre a predileção por gêneros concertantes, o fascínio pelos concertos para orquestra de Béla Bartók e Witold Lutoslawski e o desinteresse pelo gênero sinfonia, que o compositor acredita estar associado a uma tradição formal mais rígida.

 

Ilustrativo das tendências formais e estéticas atuais do compositor, fundamentalmente descritas como “pluralismo estético e técnico”, o Concerto para orquestra nº 1 caracteriza-se pela exploração do total cromático. Para Marlos Nobre, a música contemporânea ainda não se valeu da escala de doze sons em tudo o que ela pode oferecer musicalmente. Seu cromatismo, no entanto, não se associa ao serialismo e à escala de doze tons, que são, a seu ver, uma forma simplista de organização do total cromático. Por “pluralismo” Marlos Nobre entende uma linguagem musical que fuja ao simplismo e às doutrinas das escolas musicais e que seja orientada para integração e transformação profunda dos diversos elementos e estímulos que um artista absorva ao longo da vida.

 

Multifacetado e contrastante, o Concerto apresenta quatro movimentos. No primeiro movimento, Intrada, os elementos rítmicos e melódicos iniciais desenvolvem-se numa grande estrutura sinfônica. O segundo movimento, Elegia, expressa num andamento lento a necessidade de um momento de respiração e tranquilidade. Musicalmente envolvente, o movimento evoca atmosferas sensuais e mágicas. O terceiro movimento, Perpetuum Mobile, ocupa o lugar do tradicional scherzo e faz da percussão seu solista máximo. O quarto movimento, Finale, é não apenas o mais longo e o momento conclusivo, no qual todos os naipes solam igualmente, mas também o ponto de máxima densidade estrutural da obra. Nele, as grandes linhas melódicas e as a microinflexões convergem num movimento final que desafia a forma sinfônica clássica, calcada na supremacia de um primeiro movimento em forma sonata.

 

Igor Reyner
Pianista, Mestre em Música pela UFMG, doutorando de Francês no King’s College London e colaborador do ARIAS/Sorbonne Nouvelle Paris 3.

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