Concerto para piano nº 1 em si bemol menor, op. 23

Piotr Ilitch TCHAIKOVSKY

(1874)

Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tímpanos, cordas.

 

Um toque imperativo de quatro trompas em uníssono, em quatro notas, contrapostas por poderosos acordes da orquestra preparam o ouvinte para o célebre tema da mais popular obra do gênero, reconhecida como “concerto para piano por excelência”. Logo aos primeiros esboços do Concerto, Tchaikovsky declarara: “estou forçando meu cérebro para solucionar passagens de piano”. Assim como Mozart, seu compositor predileto, ele considerava que a execução da parte solo de um concerto deveria superar em brilho e virtuosidade o solo instrumental de outros gêneros musicais. Tchaikovsky ampliou a definição do termo concerto – traduzível do italiano como acerto ou concordância – para “embate”. Em suas próprias palavras, o novo gênero, passado de dueto a duelo, reúne dois adversários: “de um lado a orquestra, com toda a sua força e inesgotável riqueza de colorido; de outro o piano, um adversário menor, porém forte de espírito, que sairá frequentemente vitorioso se estiver nas mãos de um talentoso executante”. E completou: “nesse círculo há muita poesia e uma grande quantidade de tentadoras possibilidades de combinação”.

 

Tchaikovsky escreveu três concertos para piano e orquestra, sendo o último incompleto, e um Concerto-Fantasia. Inspirado no virtuosismo do discípulo Sergei Taneyev, escreveu o Concerto nº 1 e dedicou-o ao pianista Nikolai Rubinstein, fundador do Conservatório de Moscou. Rubinstein, que dez anos antes havia convidado o compositor a assumir o cargo de professor naquela instituição – hoje Conservatório Tchaikovsky –, demonstraria logo que a homenagem não fora a mais acertada. Suas críticas foram tão severas que Tchaikovsky viria a guardar cada palavra: “meu concerto era de difícil execução e absolutamente sem valor; determinadas passagens eram lugares-comuns, outras de tal forma amadorísticas que de maneira alguma teriam salvação. Em seu todo a obra era má, trivial e vulgar”. Amargamente decepcionado, o compositor alegou: “não trocarei uma única nota!”, e assim fez. Viria, sim, a trocar a dedicatória, redirecionada ao grande regente Hans von Bülow, discípulo e genro de Franz Liszt. Von Bülow estreou a obra em Boston, Estados Unidos, em 1875, e mais tarde na Alemanha, conferindo ao concerto o status de obra-prima cosmopolita.

 

Sucesso absoluto em todo o mundo até hoje, a obra suscitou de Von Bülow os mais entusiásticos elogios ao compositor: “Estou orgulhoso com a honra que o senhor me conferiu ao dedicar-me essa obra de arte magnífica, arrebatadora em todos os sentidos. As ideias são tão originais, tão generosas, tão cheias de força, e os detalhes, cujo grande número não prejudica a clareza e a unidade da obra, tão interessantes! A forma é tão perfeita, tão madura (…)”. E mais adiante: “Fiquei aturdido ao desejar acompanhar todos os detalhes de sua composição, cuja qualidade me dominou, assim como a todos a quem foi apresentada e que a receberam entusiasticamente; com a mesma intensidade desse entusiasmo desejo apresentar-lhe minhas congratulações”.

 

Marcelo Corrêa
Pianista, Mestre em Piano pela Universidade Federal de Minas Gerais, professor na Universidade do Estado de Minas Gerais.

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