Concerto para piano nº 4 em sol menor, op. 40

Sergei RACHMANINOV

(1926, revisada em 1941)

Instrumentação: piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, cordas.

 

Dois meses após a Revolução de Outubro de 1917, Sergei Rachmaninov fugia da Rússia com a esposa e as duas filhas, para não mais voltar. Com a Revolução, vieram as mudanças drásticas em seu modo de vida e a dissolução do seu mundo. Chegava ao fim a Rússia que ele tanto amava. Em 1930 diria, em uma entrevista: “Há um peso que eu sempre suportei em meus ombros e que está ficando cada vez mais difícil com a idade. Maior que qualquer outro, era-me desconhecido quando jovem: é o fato de que não tenho pátria. Tive de deixar o país onde nasci, onde passei a minha juventude. O mundo todo está aberto para mim, e o sucesso me aguarda em toda parte. Apenas um lugar me está fechado, e este lugar é o meu país: a Rússia”.

 

Para sobreviver no exílio com a família, Rachmaninov teve de abandonar uma promissora carreira de compositor, iniciada sob os auspícios de Tchaikovsky, para se dedicar inteiramente aos concertos. Grande pianista, passou a década seguinte construindo uma reputação de concertista sem precedentes, na época; comparável apenas à de Liszt, no século anterior. Com uma agenda exaustiva de concertos nos quatro cantos do mundo, Rachmaninov acreditava que a inspiração para compor chegara ao fim. Apenas em 1925 retomaria as anotações trazidas da Rússia para estruturar seu Concerto para piano nº 4. Enquanto seus concertos do período russo se inseriam claramente na tradição pós-romântica do fim do século XIX, a grande precisão técnica, a busca por simplicidade, a economia de meios na escrita para o piano e um maior interesse pelo colorido orquestral garantem ao Concerto para piano nº 4 uma sonoridade indiscutivelmente mais moderna.

 

No início do século XX, as principais correntes modernistas europeias lançavam suas bases estéticas. Enquanto, na Áustria, Schoenberg, Webern e Berg rompiam com a tonalidade, na França, Stravinsky, Ravel, Satie e os compositores do Grupo dos Seis buscavam, cada um a seu modo, novos caminhos. Rachmaninov simplesmente ignorava as tendências vanguardistas que surgiam ao seu redor: “eu sou organicamente incapaz de compreender a música moderna, por isso não posso amá-la; assim como não posso amar uma língua cuja estrutura e significados são estranhos para mim”. Porém, a partir dos anos 1920, muitas das violentas manifestações modernistas dariam lugar a uma tendência que levaria o nome genérico de neoclassicismo e que abarcaria a obra de compositores das mais diversas tendências, tais como Stravinsky, Ravel, Prokofiev, Milhaud, Poulenc, Falla e Villa-Lobos. Embora nunca se houvesse sugerido a inserção de Rachmaninov nessa corrente, é de se admitir que o seu Concerto para piano nº 4 se mantém muito mais próximo do neoclassicismo dos anos 1920-1930 do que da música do século XIX. O Concerto nº 4 foi estreado na Filadélfia, em 18 de março de 1927, pelo próprio Rachmaninov, junto à Orquestra da Filadélfia e sob a regência de Leopold Stokowski, mas sofreria ainda várias revisões até chegar à versão desejada pelo compositor, em 1941.

 

Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.

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