Concerto para violoncelo nº 1 em lá menor, op. 33

Camille SAINT-SAËNS

(1872)

Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.

 

Saint-Saëns começou a estudar piano aos três anos e, aos onze, apresentou-se na Sala Pleyel, em Paris. Em sua longa carreira (tinha 81 anos quando realizou sua última turnê aos Estados Unidos) conheceu os principais compositores franceses, de Berlioz a Debussy. Foi aluno de C. Gounod e professor de G. Fauré.

 

Além de exercer múltiplas atividades musicais – pianista, organista, professor, maestro, influente crítico musical e revisor –, Saint-Saëns foi ainda poeta, dramaturgo, geólogo e astrônomo amador. Viajante incansável, empreendeu longas turnês pela Europa (sobretudo à Rússia e à Inglaterra), pela África e pelas Américas (em 1899 esteve no Brasil).

 

O prestígio internacional impôs a escolha de sua cantata Le feu céleste para abrir a Exposição Universal de Paris (1900) e sucederam-se outras grandes honrarias, principalmente nos países de língua inglesa.

 

Mas todo esse brilho não impediu o eclipse parcial de sua música face às inúmeras correntes vanguardistas do século XX. A erudição musical de Saint-Saëns muitas vezes sufocou a espontaneidade de sua música. Por outro lado, o longevo compositor, ainda em plena atividade, manteve-se distante de qualquer novidade. Sua forte identidade musical revelou-se cedo e permaneceu caracterizada desde então. Produto e artífice de uma época, Saint-Saëns manteve-se fiel à estética que ajudou a consolidar e que lhe pareceu suficiente aos seus propósitos expressivos.

 

Inquestionável é seu papel histórico na renascença da música instrumental francesa. Em 1871, Saint-Saëns, apoiado pelos principais músicos da época, fundou a Sociedade Nacional da Música, voltada exclusivamente para a interpretação de obras de compositores franceses vivos.

 

Da vastíssima produção de Saint-Saëns, algumas peças mais significativas permanecem no repertório atual, assegurando-lhe a glória – a Terceira Sinfonia, a ópera Sansão e Dalila, sua música de câmara e alguns dos concertos.

 

Entre os concertos, o primeiro dedicado ao violoncelo, op. 33, impõe-se pelo equilíbrio formal e o uso idiomático do instrumento solista. O violoncelo é explorado em todo seu potencial, com maestria e propriedade, sobretudo pela valorização da riqueza de seu registro grave médio. Quanto à forma, a grande particularidade da obra consiste no encadeamento de seus três movimentos em um só, para, juntos, se estruturarem como um allegro de sonata: O Allegro non troppo (correspondente à exposição e ao desenvolvimento) apresenta dois temas que se desenvolvem de maneira bastante expressiva. O Allegretto con moto (formalmente, um intermezzo) adota o ritmo de minueto e tem um caráter introspectivo, muito apropriado ao instrumento solista. O Molto allegro (reexposição/recapitulação) acrescenta novo material temático e conclui a obra com elegância e beleza.

 

Paulo Sérgio Malheiros dos Santos
Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado.

anterior próximo