Divertimento

André MEHMARI

(2015)

Obra encomendada. Estreia mundial em 10 de dezembro de 2017, na Sala Minas Gerais.

Instrumentação: piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, clarone, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, cordas.

 

A versatilidade musical e amplitude estética de André Mehmari são atestadas por sua diversificada produção. Atuou junto aos grupos Orquestra Jazz Sinfônica do Estado de São Paulo, Big Band do Festival de Campos do Jordão e Banda Sinfônica do Estado de São Paulo. Com Célio Barros e Sérgio Reze, lançou um trabalho baseado em improvisação total e com Ná Ozetti, Hamilton de Holanda e Gabriele Mirabassi desenvolveu projetos premiados. Prolífico, sua discografia conta com mais de uma dezena de álbuns e entre suas premiações estão o Prêmio Nascente (USP/Editora Abril), o prêmio do Concurso Nacional de Composição Camargo Guarnieri e o Prêmio Carlos Gomes. Pianista e multi-instrumentista, compositor e arranjador, Mehmari combina as qualidades de uma educação formal – é Bacharel em Piano pela Universidade de São Paulo (USP) sob orientação de Amílcar Zani – e informal – é arranjador e compositor autodidata.

 

Mehmari entende toda sua produção, das participações em bandas de baile no interior de São Paulo, ainda quando criança, às composições encomendadas pelas maiores orquestras brasileiras, como momentos de um único projeto. Sua obra foge às classificações convencionais, pois aproxima jazz, improvisação e música popular brasileira da música de concerto de tradição europeia. Assim, define-se simplesmente como “um criador brasileiro contemporâneo” que busca responder às “inquietudes de seu tempo e do seu lugar”.

 

Seu ouvido musical fora despertado em casa, onde, durante toda a infância, pôde ouvir o mais variado repertório musical executado pela mãe ao piano da sala. E, embora incontáveis influências musicais sejam percebidas em seu trabalho, tem em Igor Stravinsky uma de suas mais completas referências composicionais. Admira no compositor russo a capacidade de transformação ao longo da carreira e o trânsito destemido por entre diferentes “territórios estéticos”, sem prejuízo de sua “essência musical”.

 

Divertimento integra-se livremente ao conjunto de suas outras obras para grande orquestra: Suíte de Danças Reais e Imaginárias, encomendada pela Osesp em 2005, e Contraponto, Ponte e Ponteio, escrita para a Orquestra Petrobras Sinfônica em 2010. O título da obra sugere tanto a graça e leveza de uma escrita que brinca com métricas irregulares e assimetrias harmônicas e melódicas, quanto a diversidade do discurso musical de Mehmari, caracteristicamente poliestilístico. Trata-se de uma obra episódica, na qual seções se sucedem por transformação. Embora apresente uma forma fluida e livre, a obra é pontuada por um tema excentricamente cerimonioso, algo entre dança e marcha. Passagens jocosas e divertidas se intercalam conduzindo a uma seção central mais lírica. Desta, segue-se uma longa sequência de episódios que elaboram e reelaboram os variados temas da obra, culminando em um final festivo. Divertimento é a celebração de uma música que, apesar de compromissos técnicos, não se dobra às regras e, por isso, ela mesma se diverte; é o prazer da música.

 

Igor Reyner
Pianista, Mestre em Música pela UFMG, doutorando de Francês no King’s College London e colaborador do ARIAS/Sorbonne Nouvelle Paris 3.

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