Concerto para violino em lá menor, op. 53

Antonín DVORÁK

Nascido numa cidadezinha do interior da Tchecoslováquia, Dvorák, aos quinze anos, foi para Praga, onde estudou teoria, órgão, canto e, principalmente, viola, tornando-se exímio intérprete desse instrumento. Foi violista da Orquestra do Teatro de Praga, regida em 1862 por Richard Wagner e, a partir de 1863, por Bedrich Smetana. Este último, também importante compositor, foi o criador da escola nacional tcheca e influenciou grandemente a música de Dvorák, na qual é notada a presença do rico manancial da música popular de seu país. Em seu Concerto para violino, Dvorák revela o folclore tcheco, não em características da Moldávia, onde nascera, e sim em traços populares da Boêmia, outra região de seu país. No último movimento, escrito no estilo de um furiant, uma forma de dança alegre e ritmada, é clara a presença da música aldeã boêmia: nele surgem contornos melódicos típicos das gaitas de fole tchecas, chamadas dudy, e das canções populares eslavas de caráter melancólico, conhecidas como dumka. Dvorák escreveu três concertos para três instrumentos diferentes: piano, violino e violoncelo, nesta ordem. Eles introduzem a forma do concerto na música tcheca e demonstram o progresso artístico de Dvorák na estruturação composicional, além de seu avanço na direção de maior expressão individual e de enfatizar o sentido de nacionalidade. Isso reflete o porquê da maior popularidade do Concerto para violoncelo, o último a ser escrito.

 

O Concerto para violino foi iniciado em 1879, um ano após a estreia do Concerto para piano, e finalizado três anos depois, em 1882. O violinista Joseph Joachim, a quem a composição fora dedicada, estreara algumas obras de câmara de Dvorák e incitara o compositor a criar um concerto para violino. Joachim fora consultado por Dvorák em Berlim tão logo este completara o manuscrito da obra. Seus comentários e sugestões foram aceitos e adotados pelo compositor, mas, apesar dos aprimoramentos, o violinista reteve a partitura original por dois anos e nunca chegou a executá-la. A estreia da obra ocorreu em Praga, no outono de 1883, pelas mãos de outro violinista, Frantisek Ondrícek. Dvorák possuía mais habilidade e segurança para escrever concertos para os instrumentos de cordas do que para piano. Tendo como base os concertos de Spohr e Mendelssohn e desenvolvendo suas ideias formais, ele encontrara soluções individuais adicionando suas raízes populares e seu talento como criador de melodias.

 

Para alguns críticos musicais, o fato de um compositor ser um bom melodista, como o caso de Schubert e Dvorák, pode implicar fraquezas no desenvolvimento de obras de grandes dimensões, pois, além da melodia, é importante uma boa estruturação. A origem humilde de Dvorák, um camponês filho de açougueiro, poderia potencializar as demais críticas quanto à qualidade irreflexiva de sua música. Ele bem sabia disso, e sempre se dedicara metodicamente ao trabalho com severa autocrítica. Segundo Hadow, “sua melodia é muitas vezes tão simples e ingênua como uma canção popular, mas na polifonia, no desenvolvimento temático, em todos os pormenores de contraste e construção, seu ideal é criar uma vida rudimentar e aperfeiçoá-la, levando-a à plena maturidade.”

 

Marcelo Corrêa
Pianista, Mestre em Piano pela Universidade Federal de Minas Gerais e professor na Universidade do Estado de Minas Gerais.

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