Fantasia Carmen

Frank Proto

(1992)

Instrumentação: Piccolo, 2 flautas, oboé, corne inglês, clarinete, clarone, tímpanos, percussão, harpa, piano, celesta, cordas.

 

A estreia da ópera Carmen de Georges Bizet tinha sido um fracasso. O público conservador escandalizou-se com o libreto, considerado licencioso. A crítica não soube avaliar com justiça os méritos da música – a beleza das melodias, a verve rítmica e a riqueza da orquestração. Bizet morreu três meses depois, aos trinta e sete anos, sem imaginar que Carmen logo se tornaria uma das óperas mais queridas internacionalmente – popular no melhor sentido da palavra; e admirada por músicos exigentes.

 

Sobre as belas melodias de Carmen, muitos compositores escreveram fantasias e variações para vários instrumentos, geralmente de cunho virtuosístico. Entre tantas, no século XX, a Fantasia de Frank Proto torna-se particularmente interessante pelo caráter jazzístico e pela participação do contrabaixista François Rabbath em sua criação. A obra foi dedicada a Rabbath.

 

O compositor e contrabaixista Frank Proto nasceu no Brooklin, Nova York. Compôs sua primeira obra para o próprio recital de formatura – a Sonata 1963 for Double Bass and Piano. Como instrumentista, atuou na Symphony of the Air, em grupos de jazz e em musicais da Broadway. Sua obra inclui partituras orquestrais e uma ópera, além de peças especialmente dedicadas a famosos instrumentistas como Dave Brubeck, Duke Ellington e Gerry Mulligan.

 

O contrabaixista e compositor sírio-libanês François Rabbath nasceu em Alepo (1931). Autodidata, estudou o método de contrabaixo de Édouard Nanny. Com 24 anos, foi para a França, com o firme propósito de encontrar esse célebre professor, sem saber que Nanny morrera oito anos antes. Em Paris, trabalhou com o cantor Charles Aznavour e o compositor Michel Legrand. Eclético e criativo, suas influências vão de Bach (gravou as suítes para violoncelo) ao jazz. Ampliou significativamente os recursos interpretativos do instrumento nos três volumes de seu Novo Método para o Contrabaixo.

 

A colaboração entre Proto e Rabbath resultou em cinco importantes obras para contrabaixo e orquestra: o Concerto n° 2, a Fantasia para contrabaixo e orquestra, Four Scenes after Picasso, Nine Variants on Paganini e a Carmen Fantasy, em cinco movimentos.

 

O Prelúdio é, na verdade, uma cadenza do solista – muito livre, sem barras de compasso – antecedida por uma introdução para sopros e harpa. Alterna o modo frígio, muito característico do flamenco, com a tonalidade de ré menor. Uma frase em harmônicos falsos conduz sem interrupção ao segundo movimento.

 

A Aragonaise é uma Jota, dança que abre o Ato IV da ópera. Nesse trecho, o compositor deixa ao intérprete a escolha de realizar ou não um recitativo improvisado.

 

Noturno – Ária de Micaela reproduz quase integralmente a melodia Je dis que rien ne m’épouvante, do terceiro ato da ópera, porém harmonizada jazzisticamente.

 

O quarto movimento, Toreador song, utiliza os Couplets e o célebre coro Toréador, en garde do segundo ato.

 

Na Dança boêmia conclusiva, depois de longo trecho improvisado pelo contrabaixo, o tema inicial do movimento reaparece em andamento mais rápido. A obra termina com uma demonstração exuberante de virtuosidade do solista.

 

Paulo Sérgio Malheiros dos Santos
Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado. Apresenta o programa semanal Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.

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