Festklänge, Poema sinfônico nº 7

Franz Liszt

(1853)

Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, cordas.

 

Franz Liszt nasceu em Raiding, então Doborjan, Hungria, filho de um músico amador e de mãe austríaca. O húngaro não era a língua corrente na região, e sim o alemão. Porém, Liszt ficou para sempre ligado sentimental e culturalmente à língua e às tradições musicais húngaras e sempre se declarou húngaro.

 

Curiosas as imbricações motivadas pela extrema mobilidade geopolítica da época. O pai do futuro compositor, Adam Liszt, músico, funcionário do príncipe Esterházy durante alguns anos, tocou na orquestra que fora dirigida por Joseph Haydn. Assim conheceu Haydn, Hummel e Beethoven e tocou sob a direção do próprio Beethoven quando este dirigiu ali sua Missa em Dó.

 

Pianista precoce, Franz foi levado pelo pai para Viena a fim de se desenvolver musicalmente. Estudou piano com Czerny, amigo e intérprete de Beethoven, e composição com Salieri – a cuja influência parece ninguém ter escapado! Provavelmente em razão de um convite de Czerny, Beethoven assistiu a uma apresentação do menino e, subindo ao palco, foi beijá-lo com efusão.

 

Aos doze anos Liszt chega a Paris, onde, residindo em toda a sua juventude, irá conviver com Chopin e Berlioz. E é a partir de Paris que enceta sua carreira europeia como pianista e compositor.

 

Idealista, dado a crises de misticismo, louco por literatura, o jovem Liszt se viu sempre cercado de amigos e admiradores.

 

Ao ter contato com Hector Berlioz e sua Sinfonia Fantástica, estreada no Conservatoire em 1830, Liszt logo escreveu uma maravilhosa transcrição da sinfonia para piano, que passou a difundir em suas turnês. A obra de Berlioz era uma enorme sinfonia programática em cinco movimentos, e Liszt, ao contrário, ia em direção à síntese. No centro de sua imensa contribuição ao Romantismo europeu está o poema sinfônico, que criou, valendo-se – também em outras obras – tanto de temas literários quanto de outras sugestões, como inspiração, sim, mas sem qualquer literalidade. Apenas evocação e sensação, dizia ele. Os poemas sinfônicos de Liszt pretendem traduzir o ambiente geral de seu tema e em alguns há um simples programa literário que antecede a partitura, como nos informa o Dicionário Grove de Música.

 

A música programática sempre teve exemplos ilustres, às vezes com caráter descritivo; porém a grande invenção de Liszt foi uma alternativa à sinfonia, cuja estrutura formal clássica ele considerava esgotada. Abandonou as repetições, utilizou o princípio do Leitmotiv (motivo condutor) – que ficou depois associado indelevelmente a Wagner – e a contínua transformação dos temas, princípio da forma cíclica.

 

Liszt compôs treze poemas sinfônicos, dentre os quais o de nº 7, Festklänge (Sons festivos), estreado em novembro de 1854 no teatro de Weimar, sob sua regência. Neste, como em outros poemas, Liszt utiliza o princípio da grande variação beethoveniana. O texto de Schiller Homenagem às artes foi a motivação para a composição da obra. Sucedem-se sem interrupção um Andante mosso con brio, um Andante sostenuto e um Allegretto, onde figuram duas homenagens: uma polonaise e um verbunkos húngaro.

 

A posição de Liszt perante a música de seu tempo foi inovadora e profética; sua influência, como homem e como artista, foi de excepcional generosidade em relação a seus contemporâneos.

 

Berenice Menegale
Pianista, fundadora e diretora da Fundação de Educação Artística.

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