Movimentos sinfônicos, op. 114

Marlos NOBRE

Em 1985 Marlos Nobre já figurava ao lado dos ícones da música da América Latina como o segundo compositor brasileiro mais executado no mundo, superado apenas por Villa-Lobos. E em 2005 sua posição inconteste foi gravada na história dos vencedores quando recebeu o prêmio Tomás Luís de Victoria, o mais expressivo outorgado a compositores ibero-americanos. Enquanto ecoavam nos meios musicais os 60 mil euros e o livro que registra a trajetória do premiado, divulgava-se a declaração de Tomás Marco (eminente compositor e crítico espanhol): “Marlos Nobre é o maior compositor vivo do continente ibero-americano”.

 

Nascido em Recife, Marlos Nobre começa seus estudos musicais aos cinco anos de idade. Em 1959 recebe seu primeiro prêmio, Músicas e Músicos do Brasil, promovido pela Rádio MEC. Tal reconhecimento leva o jovem compositor para o círculo de Koellreutter e Guarnieri, em São Paulo. Desenvolvendo-se rapidamente, parte, em 1963, para Buenos Aires. Ali, o contato com Ginastera, Messiaen, Dallapiccola e Malipiero aproxima-o das mais novas técnicas composicionais e das expressões musicais de vanguarda. Participando depois, nos Estados Unidos, dos famosos Festivais de Tanglewood (que completam, neste verão de 2012, 75 anos), seu contato com Bernstein, Goehr e Schuller é marcante. Prêmios e condecorações, responsabilidades administrativas e pedagógicas em grande número garantiram a Marlos Nobre lugar de destaque no cenário musical. Como compositor, pianista e regente, protagonizou momentos singulares da história da música brasileira.

 

A poética de Marlos Nobre tem sido definida como o som de um realismo mágico. A vastidão de seu trabalho contempla as linguagens tonais, modais, o atonalismo livre, o serialismo ou os processos aleatórios de composição. Essa poética da multiplicidade revela o compositor dinâmico, perceptivo e cosmopolita que, no entanto, soube manter sua identidade nacional através de referências livres aos ritmos e gêneros brasileiros. Marlos Nobre nos apresenta um nacionalismo expandido.

 

Os Movimentos Sinfônicos – em memória de um anjo foram compostos para a abertura da temporada 2011 da Orquestra Petrobrás Sinfônica, a pedido de Isaac Karabtchevsky, a quem a obra é dedicada. Estreada em 27 de março desse ano, a obra desdobra-se de um pequeno coral composto na década de 1970, quando da morte precoce de Ilana, filha de Karabtchevsky. Apresenta três seções que não se rompem. O estonteante sinfonismo inicial, banhando pela mais intensa emotividade, é acalentado pelo adagio que revela, nas madeiras, o tema angelical. Ao final, melodias ligeiras cruzam o coral que resolve o drama num maior e mais perfeito acorde. É o momento em que a realidade torna-se, pelo som, a fantasia capaz de sublimar a perda.

 

Igor Reyner
Pianista, Mestre em Música pela Universidade Federal de Minas Gerais.

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