Passacalha para o novo milênio

Edino Krieger

(1999)

 

Nascido em Brusque, estado de Santa Catarina, foi iniciado ao violino pelo pai, fundador do Conservatório local, e deu recitais dos 9 aos 17 anos. Obtendo então uma bolsa de estudos, foi estudar no Conservatório Brasileiro de Música, no Rio de Janeiro, onde se tornou aluno, por seis anos, de H. J. Koellreutter, o qual, segundo depoimento de Krieger, foi responsável por sua base para a criação musical. O Movimento Música Viva, criado pelo mestre alemão, atraiu imediatamente Edino, que recebeu, ainda em 1945, o Prêmio Música Viva com seu Trio de Sopros e passou a integrar o Grupo Música Viva, assim como Guerra-Peixe, Cláudio Santoro, Eunice Katunda e outros. Esse grupo constituía a vanguarda musical do país e tinha posição estética polêmica que entrou em choque, entre outros, com Camargo Guarnieri, compositor que liderava a linha nacionalista. Krieger, em meio às radicalizações e aos debates na imprensa, defendia a liberdade estética do compositor, posição da qual jamais abriu mão.

 

Em 1948 seguiu para os EUA, selecionado para estudar com Aaron Copland no Berkshire Music Center de Massachussets. Ali estudou também com Darius Milhaud e, na Juilliard, com Peter Mennin. Trabalhou ainda com Ernst Krenek e, em Londres, com Lennox Berkeley.

 

Sua trajetória de compositor inclui extensa sucessão de prêmios, encomendas e estreias por orquestras, conjuntos e solistas nacionais e internacionais.

 

Ao lado de sua militância como autor, Edino Krieger exerceu e exerce ainda atividades como dirigente e fomentador de instituições e iniciativas culturais no país. E em todas as suas atuações deixa a marca da sua competência, espírito inovador e generosidade, seja nas rádios MEC e Jornal do Brasil, seja à frente da Academia Brasileira de Música, da Fundação dos Teatros do Rio de Janeiro, da FUNARTE e da Fundação Museu da Imagem e do Som. Criou em 1975 as Bienais de Música Contemporânea do Rio de Janeiro, que continuam, hoje, a divulgar a criação musical brasileira.

 

Passacalha para o novo milênio, composta em 1999 para a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo e estreada no ano 2000 pela OSESP, sob a regência de Roberto Minczuk, foi executada na turnê dessa orquestra pelos Estados Unidos e Europa. Segundo o autor, a Passacalha “é uma peça orquestral de estrutura simples, num estilo que poderia ser chamado de pós-moderno, por utilizar uma forma pré-clássica com a inserção de elementos rítmico-melódicos da música popular brasileira, querendo significar o transcurso de um tempo anterior para um tempo futuro. Não obstante a estrutura métrica original da passacalha ser ternária, nesta peça o tema básico é quaternário. Essa ideia repete-se de modo a percorrer os 12 sons da escala cromática. A partir da sexta apresentação, elementos da temática brasileira começam a se contrapor à feição clássica do tema, que aparece então no oboé solista embalado pelo ritmo da marcha-rancho. Pouco depois, um clarinete solista borda contornos de valsa sobre o acompanhamento da harpa, e depois de um episódio em fugato as clarinadas metálicas de um frevo se sobrepõem ao pedal grave do tema, conduzindo a uma coda de caráter festivo, como que para saudar com otimismo o novo milênio”.

 

Berenice Menegale
Pianista, diretora da Fundação de Educação Artística

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