Sinfonia Concertante em Mi bemol maior, op. 84

Franz Joseph HAYDN

(1792)

Curiosamente, a origem de Joseph Haydn é croata (do nome Hajden) e não germânica. Rohrau, cidade austríaca onde nasceu, está no coração da colônia de imigrantes croatas que ali chegaram no século XVI. Sua mãe era cozinheira no castelo e o pai, fabricante de rodas de carroça, tocava harpa e cantava sem conhecer as notas musicais. Haydn recebeu as primeiras noções de música de um tio com quem foi morar aos seis anos de idade. Em dois anos ele se tornou um menino cantor na Catedral de Viena. Quando sua voz muda (deixa de ter as características de voz infantil), é afastado do coro e passa a morar sozinho, sem amigos e sem dinheiro. Ainda assim continua seus estudos e seu modelo é Karl Phillip Emmanuel Bach, um dos filhos de Bach. Logo conhece N. Porpora, professor de canto, com quem aprende composição. Haydn estudou a fundo a célebre obra sobre contraponto Gradus ad Parnassum de J. Fux. Mesmo sem formação musical regular, mas graças a uma rotina rigorosa de trabalho diário, começa a compor. É constantemente requisitado como pianista e professor.

Um príncipe da Hungria, amante de música, contrata Haydn para Mestre de Capela em seu castelo em Esterhazy. Eram suas atribuições: compor e reger todas as músicas, cuidar da saúde e vestimenta dos músicos e da manutenção dos instrumentos. O compromisso de realizar concertos e óperas duas vezes por semana no teatro da propriedade levou Haydn a compor mais de cem sinfonias e dezenove óperas. E uma orquestra à disposição foi um precioso laboratório para testar suas ideias musicais. Isolado do mundo por quase trinta anos, veio a Viena em 1785, quando ficou amigo de Mozart, formando com ele um quarteto de cordas. Analisando as sonatas de Haydn, percebe-se que as que foram compostas dessa época em diante tinham maior riqueza melódica e refinamento, mostrando a evolução de Haydn ao tomar contato com as obras de Mozart. Em compensação, Mozart escreveu: “Foi com Haydn que primeiro aprendi o modo verdadeiro de compor um quarteto”.

Morrendo o príncipe, Haydn volta a Viena, e o violinista alemão J. Salomon, fundador da Philarmonica Society em Londres, lhe encomenda doze sinfonias para os concertos dessa sociedade. Em duas viagens Haydn rege essas obras, que ficaram conhecidas como Sinfonias de Londres.

A Sinfonia Concertante foi composta em 1792, também em Londres, para quatro solistas – violino, violoncelo, oboé e fagote – e orquestra. Solistas em diálogo com a orquestra: é esse realmente o sentido de concertare. Disse um jornal depois da estreia: “é uma obra profunda, suave, afetuosa e original”. No andante o tema é bem distribuído entre os solistas; no allegro final Haydn introduz duas vezes um pequeno adagio, no solo de violino, que lembra um recitativo de ópera.

A mensagem escrita por Haydn a Leopoldo, pai de Mozart, mostra uma generosidade humana comovente: “Como homem honesto e na presença de Deus eu lhe digo que seu filho é o maior compositor que eu conheço pessoalmente ou de nome, e que ele tem bom gosto e o mais alto grau de conhecimento da composição musical.”

Norah Almeida
Pianista, professora formada pelo Conservatório de Música de Genebra.

Olho:
O compromisso de realizar concertos e óperas duas vezes por semana levou Haydn a compor mais de cem sinfonias e dezenove óperas. E uma orquestra à disposição foi um precioso laboratório para testar suas ideias musicais.

anterior próximo