Sinfonia nº 2, “A Era da Ansiedade”

Leonard Bernstein

(1949, revisão 1965)

Instrumentação: Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, clarone, 2 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, 2 harpas, pianino, celesta, cordas.

 

Leonard Bernstein foi, antes de mais nada, um grande regente. Talvez um dos mais importantes que o século XX tenha conhecido. E regeu de tudo: de Bach a Messiaen. Suas gravações figuram entre as mais importantes da indústria fonográfica e algumas delas são antológicas: a da Rapsódia em Blue de Gershwin, de 1983, feita ao vivo, em que ele é solista e regente à frente da Orquestra Filarmônica de Los Angeles (que traz como bis o segundo prelúdio para piano também de Gershwin); a que ele fez com o pianista Glenn Gould, em 1960, para a rede CBS de televisão, do concerto em ré menor de Bach; a da Grande Missa em dó menor de Mozart, também ao vivo e registrada em vídeo, à frente da Orquestra Sinfônica e do Coro da Radiodifusão da Baviera, em 1990 – ano de sua morte –, para citar apenas algumas poucas.

 

Sua formação musical não é menos sólida: estudou em Harvard e depois no Curtis Institute of Music, na Filadélfia, onde foi aluno de nada menos do que Fritz Reiner. Além disso, seu talento invulgar foi reconhecido desde muito cedo, seja por Koussevitzky, com quem tomou aulas de regência nos festivais de verão em Tanglewood, seja pelo próprio Toscanini, que, em 1946 o convidou a reger dois concertos à frente da Orquestra Sinfônica da NBC. O fato é que ele conduziu as principais orquestras sinfônicas do mundo e por todas era igualmente respeitado e aclamado.

 

Como compositor, ele soube aproveitar sua formação e sua inestimável experiência de regente, associando-as a uma espécie de descompromisso com quaisquer tendências ou correntes escolásticas, aliás, típico dos compositores norte-americanos do século XX. Usa de suas fontes como lhe convém para criar, e está nisso parte de sua originalidade. Ele é capaz de compor tanto uma missa, quanto obras baseadas na tradição religiosa judaica; transita com igual desenvoltura entre a sinfonia, o jazz e as canções para a Broadway: se, de alguma forma, ele aborda o folclore, é a um universo urbano, genuinamente estadunidense, que sua música sempre se remete.

 

The Age of Anxiety, cujo título é o mesmo do longo poema de W. H. Auden, é uma obra ímpar de Leonard Bernstein, não apenas por ser inusitadamente uma sinfonia para piano e orquestra. Sinfonia, aqui, não se remete, senão longinquamente, ao modelo clássico. Ademais, nela, o compositor revela o pianista excelente que era e o profundo conhecimento idiomático que tinha tanto do piano quanto da orquestra sinfônica.

 

Bernstein a compôs entre 1948 e 1949, mas, insatisfeito com o final, revisou-a em 1965. A estreia se deu em 1949, pela Orquestra Sinfônica de Boston, sob a batuta de Serge Koussevitzky, tendo o compositor como solista. Seus movimentos têm, cada um, o nome de uma das seções do poema de Auden, sendo que o segundo e terceiro são compostos de uma série de quatorze variações sobre o tema proposto no primeiro. A despeito disso, quaisquer associações com a obra de Auden são desnecessárias. O poema é claramente uma motivação, não um roteiro. Mas a música de Bernstein demonstra o quão ele era comprometido com seu próprio tempo e, nele, com as vicissitudes humanas.

 

Moacyr Laterza Filho
Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa, professor da Universidade do Estado de Minas Gerais e da Fundação de Educação Artística.

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