O beijo da fada: Divertimento

Igor STRAVINSKY

(1928, revisão 1934 e 1949)

Instrumentação: Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, clarone, 2 fagotes, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, cordas.

 

Nascido em Oranienbaum, hoje Lomonosov, Igor Stravinsky cresceu e se tornou músico em São Petersburgo. Em 1902, tomou a iniciativa de procurar Rimsky-Korsakov, daí nascendo uma afetuosa amizade entre mestre e aluno.

 

Na mesma época, o jovem amador de artes Sergei Diaghilev liderava um movimento de artistas na capital imperial e preparava grandes empreendimentos. Criou os célebres Ballets Russes, que levou a Paris em 1909. Foi ele que encomendou a Stravinsky O Pássaro de Fogo em 1910, Petrushka em 1911 e A Sagração de Primavera em 1913 – as três grandes obras que celebrizaram o compositor em sua fase russa e que são tão profundamente contrastantes entre si. Ao escandaloso tumulto promovido pelo público na estreia da Sagração em Paris corresponderam reações compreensivas da crítica e imenso interesse por parte dos grandes compositores da época – Debussy, Ravel, Falla, Casella.

 

Vivendo na Suíça durante a Primeira Guerra Mundial, Stravinsky escreveu ali A História do Soldado, entre tantas outras obras. No pós-guerra passou à longa série de composições na linha do novo objetivismo que se propagou por toda a música ocidental, na esteira do antiwagnerismo, com todas as neoclássicas e neobarrocas experiências do período.

 

Nesse contexto surge O beijo da fada, em 1928, encomendado por Ida Rubinstein (atriz e dançarina ucraniana que patrocinou muitos artistas do seu tempo) no 35º aniversário da morte de Tchaikovsky. O argumento é um conto de Hans Christian Andersen, A Dama das Geleiras, escolhido por Stravinsky porque “sugeria uma alegoria de Tchaikovsky. Assim como a fada beijou o calcanhar da criança em seu nascimento, a musa também o fez com Tchaikovsky. Só que a musa não reivindicou o feito em seu casamento, como a fada fez com a criança, mas quando o compositor já estava no auge de sua força criativa”. Segundo Robert Siohan, em seu livro Stravinsky da coleção Solfèjes, O beijo da fada “tenta ressuscitar, através de Tchaikovsky, um romantismo à flor da pele”. No balé figuram diversas melodias de Tchaikovsky, extraídas de suas canções, de sua música para piano, do balé A bela adormecida, do Quarteto no 1 e das sinfonias números 4, 5 e 6.

 

A primeira apresentação da obra se deu na Ópera de Paris, em 27 de novembro de 1928, com regência do compositor, coreografia de Bronislava Nijinska, cenários e figurinos de Alexandre Benois. Em 1932, Stravinsky e Dushkin fizeram um arranjo para violino e piano. O arranjo tornou-se a base do Divertimento para orquestra, composto em 1934 e revisado em 1949. O beijo da fada é uma combinação extremamente feliz das agradáveis melodias de Tchaikovsky com o colorido orquestral único de Stravinsky.

 

Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.

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