Tannhäuser: Abertura

Richard WAGNER

(1845)

Instrumentação: Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, cordas.

 

Em abril de 1842, Wagner e a esposa, Minna, deixaram Paris rumo a Dresden. O casal, que tantas infelicidades vivera na capital francesa, agora finalmente a abandonava rumo à expectativa de sucesso na Saxônia. Rienzi, a ópera de Wagner recém-composta em Paris, seria estreada em Dresden, em outubro. Antes do início dos ensaios, no entanto, o casal passou algumas semanas de férias na Boêmia. Enquanto descansavam na estância termal de Teplitz, Wagner, que já havia algum tempo desejava escrever uma ópera sobre a lenda de Tannhäuser, começou a ler todo o material que encontrara sobre o assunto. Em pouco mais de uma semana de trabalho, o primeiro esboço do libreto, em prosa, estava pronto.

 

Em Dresden, Wagner viveu dias felizes. Após a estreia de Rienzi, foi a vez de O navio fantasma, em janeiro de 1843. Em fevereiro era nomeado Kapellmeister da corte do rei da Saxônia, em abril concluía o libreto de Tannhäuser e, em julho, iniciava a composição da música. Em janeiro de 1845, com a ópera praticamente concluída, ele começou a compor a Abertura. A partitura da ópera completa ficou pronta no dia 13 de abril e a estreia se deu em outubro de 1845, sob a regência do compositor, no Teatro Real de Dresden.

 

Wagner era um apaixonado pelo teatro, mas odiava a vulgaridade dos dramas musicais de sua época. Seus ideais dramáticos foram encontrados no teatro antigo da Grécia, enquanto seus modelos musicais eram os grandes sinfonistas alemães, especialmente Beethoven. Com isso, os temas de suas óperas deveriam ser, no mínimo, grandiloquentes. Como afirmou Baudelaire: “Eu diria que Wagner tem uma predileção irresistível pelas pompas feudais, as assembleias homéricas onde reside um acúmulo de forças vitais e as multidões entusiasmadas, reserva de eletricidade humana, de onde o estilo heroico surge com uma impetuosidade natural.”

 

Não era uma tarefa fácil associar a excelência da dramaturgia grega à grandeza sinfônica beethoveniana, e o público, mais acostumado à frivolidade das óperas de sucesso fácil, não estava preparado para tanta profundidade. Wagner teve de acumular inúmeros fracassos, e Tannhäuser foi um deles. A apresentação em Dresden foi um fracasso, assim como o seria durante toda a vida de Wagner, onde quer que fosse apresentada. Apenas após a sua morte ela entraria para o repertório corrente, tornando-se, ao final do século XIX, uma de suas óperas mais populares, com O navio fantasma e Lohengrin.

 

A famosa Abertura contém alguns dos principais temas da ópera. O enredo mistura as lendas do cavaleiro Tannhäuser com a do torneio de canto de Wartburg, no século XIII. Tannhäuser, cansado dos prazeres carnais de Venusberg (o mítico Monte de Vênus), decide voltar para casa. Para livrar-se do domínio da deusa Vênus, ele invoca a Virgem Maria, que o resgata. Encontra uma procissão de peregrinos e se junta a eles. Wolfram o convence a voltar para Elizabeth, sua amada, em Wartburg, onde o torneio de canto está acontecendo. Eles se encontram, mas Tannhäuser canta uma canção apaixonada em louvor a Vênus e por isso é banido do país. Juntando-se aos peregrinos, viaja a Roma para pedir perdão ao Papa. O perdão é negado e ele retorna bem no momento do funeral de sua amada. Roga que seu espírito interceda por ele, e morre. Os peregrinos surgem com o perdão do Papa, finalmente concedido, para a salvação de sua alma.

 

Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.

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