Variações sobre um tema Rococó, op. 33

Piotr Ilitch TCHAIKOVSKY

(1876/1877)

Versão de Fitzenhagen.

Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, cordas.

 

Em 1876, Tchaikovsky vivia em Moscou havia dez anos e ganhava a vida como professor do Conservatório. Desencantado com os recentes fracassos de suas obras, iniciou a composição de uma peça para violoncelo e pequena orquestra, à moda antiga, com o intuito de fazer-se conhecido: as Variações sobre um tema Rococó. No final do século XVIII e início do XIX, as séries de variações sobre uma ária famosa de ópera, ou uma canção folclórica, foram extremamente populares como forma de exibição dos virtuoses. A composição das variações, muitas vezes, ficava a cargo do próprio solista, que criava os mais incríveis malabarismos em seu instrumento para uma melhor demonstração dos seus dotes de instrumentista.

 

Tchaikovsky e Wilhelm Fitzenhagen deviam ter algo parecido em mente quando decidiram juntar esforços em uma nova composição. Fitzenhagen era concertista e professor de violoncelo no Conservatório de Moscou. Os dois desenvolveram uma sólida amizade, e Tchaikovsky parecia confiar em Fitzenhagen sempre que precisava escrever para o violoncelo. Fitzenhagen, que já havia estreado alguns quartetos de cordas de Tchaikovsky, recebeu deste a permissão para alterar a parte do violoncelo de sua recém-composta Variações Rococó. No entanto, Fitzenhagen parece ter tomado liberdades exageradas, pois, além de modificar consideravelmente a composição, eliminou a oitava variação e alterou a ordem das restantes. Dessa maneira, a concepção original de Tchaikovsky, que consistia em introdução, tema, oito variações e coda, ganhou o seguinte plano: Introdução, tema, variação 1, variação 2, variação 6, variação 7, variação 4, variação 5, variação 3 e coda (reduzida).

 

Nem o tema nem as variações são verdadeiramente rococó, embora o tema traga consigo algumas características do estilo, tais como leveza, elegância e graciosidade. Trata-se de um tema composto por Tchaikovsky naquele tipo de visão estilizada da arte antiga, tão comum no século XIX.

 

A obra foi composta entre dezembro de 1876 e março de 1877. O sucesso da estreia, em 1877, das apresentações seguintes e a projeção do nome de Tchaikovsky no exterior parecem ter convencido o ainda desconhecido e inseguro compositor a manter as alterações de Fitzenhagen quando a obra foi publicada, em 1878, na versão para violoncelo e piano. A publicação da partitura de orquestra, em 1889, selou para sempre o destino da obra.

 

As alterações que Fitzenhagen fez na obra visavam mais que uma mera exibição de virtuosismo. Nos concertos do século XIX eram comuns os aplausos no meio da música sempre que surgia um momento de especial bravura. A reorganização que Fitzenhagen fez na ordem das variações buscava produzir um maior impacto na plateia. Sua versão é brilhante, enquanto a original é mais coesa e formalmente mais dramática. A versão de Tchaikovsky/Fitzenhagen é a mais conhecida e, praticamente, a única que foi executada desde 1877. Apenas recentemente veio à tona a versão original como Tchaikovsky a concebeu.

 

Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.

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