|    26 Maio 2020

Maestro indica: “O cavaleiro da rosa” de Richard Strauss

Beleza e perfeição no cavaleiro de Strauss e Kleiber

Beleza e perfeição no cavaleiro de Strauss e Kleiber

Por Fabio Mechetti

Poucos compositores na história da música foram capazes de combinar fecundidade criativa com uma qualidade ímpar em suas produções, como Richard Strauss. Strauss escreveu muito, tanto em número de obras compostas, como em notas escritas fisicamente. Suas partituras revelam uma riqueza de ideias sem paralelos e uma prolixidade composicional que se utiliza do virtuosismo orquestral e vocal, unindo de forma singular uma técnica perfeita aliada à força emocional intrínseca de suas obras. Confortável tanto no campo operístico quanto sinfônico, Strauss nos deixou alguns dos exemplos mais marcantes dessa genialidade que revela domínio técnico e incontida emoção, como na ópera O cavaleiro da rosa.

Com mais de três horas de duração, O cavaleiro da rosa é talvez uma das óperas mais caras, difíceis e complexas de todo o repertório lírico. Não vou me ater aqui ao enredo da ópera em si, mas sim a momentos inesquecíveis em que a beleza artística associa-se à excepcional execução.

Dueto

A “Entrega da rosa” mostra uma produção da Ópera de Munique de 1979, dirigida por um dos mais talentosos maestros da história, Carlos Kleiber. No papel de Sofia, temos Lucia Popp, e no de Octavian (cantado por uma mezzo-soprano), Brigitte Fassbaender. Um jovem adolescente, incumbido de levar uma rosa de prata de presente a Sofia, dado por uma mulher mais velha (Marechala), com quem tem descoberto os primeiros “mistérios” da vida amorosa, encanta-se subitamente com o charme e beleza de Sofia, que corresponde igualmente aos sentimentos despertados. Essa conjuntura de amor revelado, pureza de sentimentos e sensualidade aparente é capturada de forma magistral pela maneira como Strauss se utiliza de recursos melódicos, harmônicos e instrumentais para comunicar, com sons, essa experiência única.

Trio Final

No final da ópera, as três personagens principais unem-se num dos trios vocais mais inspirados que conheço. Cada uma das cantoras (lembrando que uma delas faz papel masculino) revela individualmente suas emoções num contraponto de perfeita técnica e absoluta beleza. Sofia e Octavian veem, finalmente, sua união consolidada, ao passo que a Marechala, interpretada por Gwyneth Jones, abdica de um amor impossível.

A imagem que ilustra este post é uma fotografia de Edward Steichen, 1904.

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