Árias Ciganas, op. 20

Pablo de SARASATE

(1878)

Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, percussão, cordas.

 

O século XIX trouxe, com o Romantismo, o interesse do público pela performance virtuosística. Nicolò Paganini (1782-1840) e Franz Liszt (1811-1886) foram, para o violino e o piano, respectivamente, o ápice do domínio absoluto da técnica. Liszt viveu suficientemente para realizar uma obra genial de compositor e de antecipar caminhos revolucionários para a linguagem da música. Paganini, embora compositor de muitos méritos, não teve sua influência descolada de seu lendário virtuosismo, do magnetismo de seus malabarismos.

 

Ainda no século XIX, o célebre violinista Joseph Joachim (1831-1907) exibia técnica e interpretação que primavam pela solidez e pelo rigor do estilo, opondo-se ao virtuosismo gratuito. As escolas de violino a partir de então se multiplicam e passam a ser conhecidas por suas características próprias e diversas – a russa, a franco-belga, a germânica, cujos representantes rivalizam em sua propagação.

 

Em 1856, no Conservatório de Paris, o eminente Delphin Alard recebe em sua classe o menino Pablo de Sarasate, violinista espanhol de Pamplona, com doze anos, prodígio famoso em seu país, onde a Rainha Isabel lhe ofertara seu primeiro Stradivarius. Com apenas alguns meses de frequência às aulas, o Conservatório lhe confere o Primeiro Prêmio, considerando concluída sua formação violinística. Pablo termina seus estudos teóricos em Paris aos quinze anos e dá início à carreira internacional de concertista que o viria projetar como um dos maiores violinistas de todos os tempos.

 

A segunda metade do século XIX foi uma idade de ouro dos violinistas; celebridades como Joachim, Wieniawski, Vieuxtemps, Ysaÿe, Auer e também Sarasate, entre outros, cruzavam a Europa, a Rússia, as Américas. Os depoimentos sobre a arte incomparável de Pablo de Sarasate, por parte de outros violinistas e críticos, são numerosos. Elegância, suavidade, graça – são adjetivos frequentemente empregados para descrever sua sonoridade. Sua técnica perfeita e pessoal, seu staccato característico, seu vibrato – são comentados com admiração.

 

Muitos compositores contemporâneos de Sarasate lhe dedicaram obras, a exemplo de Saint-Saëns – o Concerto nº 3 e a Introdução e Rondó Caprichoso – e Édouard Lalo – a Sinfonia Espanhola. Sarasate foi um dos primeiros violinistas que fizeram gravações, datadas de 1904.

 

Como compositor, o grande violinista deixou mais de cinquenta obras catalogadas, quase sempre inspiradas no folclore espanhol, magnificamente escritas para violino e piano, e violino e orquestra. Entre estas estão as Árias Ciganas (editadas com o título alemão Zigeunerweisen), baseadas em temas gitanos preexistentes que o autor indicou na partitura. Seu charme e romantismo irresistíveis fazem delas uma das mais populares peças curtas do repertório de violino. Também faz parte do repertório atual a Fantasia sobre temas da Carmem de Bizet, além de várias danças espanholas.

 

Berenice Menegale
Pianista, fundadora e Diretora da Fundação de Educação Artística.

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