Concerto para piano

Francis POULENC

(1949)

Instrumentação: piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, cordas.

 

A tendência estética que se identificou como uma nova objetividade nos países germânicos do pós-guerra de 1914-1918 era um antirromantismo, superação do pessimismo das manifestações expressionistas, em busca de uma renovação que se baseava em elementos de ordem, diatonismo, simplicidade. Na França, a mesma motivação incluía uma negação do impreciso, vago, vaporoso – tidas como características da estética de Debussy. A opção era por nitidez, concisão, predominância rítmica, virtudes da velha tradição da música francesa.

 

Satie, Stravinsky, Picasso e outras personalidades influenciavam o ambiente parisiense dos anos 1920. Jean Cocteau – poeta, artista a serviço tanto da literatura quanto do cinema, do balé, da música, do teatro – apadrinhava em Paris uns jovens compositores naqueles anos loucos. Eram Georges Auric, Louis Durey, Arthur Honegger, Darius Milhaud, Germaine Tailleferre e Francis Poulenc – que um jornalista chamou de Les Six (Os Seis). A denominação se consagrou e passou para a história da música, apesar de não existir de fato um grupo. Aos Seis coube representar, na França, a recusa do impressionismo, assim como o gosto pela utilização de elementos do music hall e do jazz. Durey abandonou logo a convivência com os demais, Auric dedicou-se à música para filmes e, dos outros, apenas Honegger, Milhaud e Poulenc, personalidades contrastantes, vieram a construir obras amplas e significativas.

 

Francis Poulenc recebeu uma formação geral clássica e, na música, foi aluno de Koechlin e do grande pianista espanhol Ricardo Viñes. Estreou como compositor aos dezoito anos, com a Rapsódia Negra para piano, quarteto de cordas, flauta, clarinete e voz, em que utilizava ritmos de jazz, em concerto de jovens organizado por Satie no Théatre du Vieux Colombier.

 

A música de Poulenc é em geral leve, clara, de harmonias requintadas. Ele pode ser decididamente urbano, parisiense em sua inspiração, como outras vezes voltado para reminiscências do campo. Extremamente feliz ao utilizar textos poéticos (Apollinaire, Max Jacob, Éluard etc.), sua contribuição à música vocal francesa está entre os momentos mais altos de sua obra. Na música de câmara deixou algumas joias, como as três sonatas com piano – para flauta, clarinete e oboé, em que, ao lado da expressão mais ligeira, surgem momentos pungentes e profundos. Excelente pianista, escreveu muito para seu instrumento.

 

Na música cênica explorou a veia cômica, satírica (Les mamelles de Tirésias); na música coral aparece seu lado sinceramente religioso (Litanies de la Vierge Noire, Stabat Mater).

 

A música sinfônica não foi objeto de seu particular interesse, porém utilizou com frequência as formas concertantes, como em seus cinco concertos: para órgão, para cravo (Concert Champêtre), Concerto para dois pianos, Aubade (Concerto coreográfico para piano e 18 instrumentos) e Concerto para piano.

 

O próprio Poulenc foi solista na estreia do Concerto para piano, com a Sinfônica de Boston, sob a regência de Charles Münch. É um divertissement, descomprometido e brilhante em seus três breves movimentos, cheio da espontaneidade característica do autor.

 

Berenice Menegale
Pianista, fundadora e diretora da Fundação de Educação Artística.

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