Concerto para vibrafone

Edmundo Villani-Côrtes

(1994)

Instrumentação: Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 2 trombones, tuba, tímpanos, percussão, cordas.

 

Influenciada pelo gênero teatro musical, entre a música americana e o brasileirismo de Radamés Gnattali, a música de Edmundo Villani-Côrtes é sempre elegante. Sua melodia é franca, sua rítmica, transparente, sua harmonia é familiar aos ouvidos e espontânea, buscando mostrar que, nas acertadas palavras do compositor, “o prazer de compor está relacionado a uma necessidade que impulsiona o desejo de criação”.

 

Mineiro de Juiz de Fora, Villani-Côrtes transitou entre orquestras noturnas, de baile, de jazz, sinfônicas, jazz-sinfônica, de rádio e televisão, atuando como pianista, arranjador e maestro. Em 1994, quarenta anos após estrear seu 1º Concerto para piano e orquestra, vivenciava o ápice de sua fecunda produção com obras como a Sonata nº 1 para piano, o Divertimento 94 para orquestra, um ciclo de canções e uma obra concertante para banda sinfônica e quinteto de jazz – o Quinteto onze e meia, do qual foi o primeiro pianista.

 

Ainda em 1994, escreveu duas obras dedicadas ao vibrafone: a Ritmata nº 3 e o Concerto para vibrafone e orquestra. O Concerto para vibrafone foi estreado durante o Festival de Campos do Jordão de 1996 pelo vibrafonista André Juarez – regido por seu pai, Benito Juarez, à frente da Sinfônica de Campinas. Em 1998, André Juarez, a quem Villani-Côrtes dedicou a obra André no Frevo, gravou ao lado do compositor um CD com obras para vibrafone e piano. No mesmo ano, o Concerto para vibrafone foi premiado como Melhor peça experimental pela Associação Paulista de Críticos de Artes.

 

O primeiro movimento do Concerto para vibrafone (Desafio) inicia-se como uma tocata marcial, em moto perpetuo para o solista. Na seção central há um tema amoroso (Moderato, expressivo) no qual desponta a brilhante veia de Villani-Côrtes como arranjador de orquestra de televisão. Em seguida, a percussão – woodblock, caixa, pratos e tímpanos – adensa a textura orquestral e o aligeirado Tempo primo reaparece, dessa vez mais dançante. Logo, uma fanfarra anuncia a nova seção (Allegretto) que, brevemente, revisita todos os temas e conclui o movimento.

 

No Intermezzo, o compositor utiliza a mesma indicação de caráter da seção lenta do primeiro movimento (Moderato, expressivo) e a mesma doçura. O movimento é marcado pela presença de uma cadenza, ad libitum, trecho destinado à livre criação do solista. A cadenza imperceptivelmente se transforma em solo escrito e guia o retorno da orquestra para encerrar o movimento.

 

O movimento final é uma Toccata. O nome alude ao gênero tradicionalmente destinado à exibição da destreza dos músicos em instrumentos de teclado, como o órgão, o cravo, o piano e, no caso, o vibrafone. O vibrafone possui lâminas de metal dispostas como as teclas do piano, tal qual a marimba e o xilofone, cujas lâminas, porém, são de madeira. O vibrafone tem, ainda, um pedal de abafamento e um sistema eletromecânico que gira discos inseridos nos tubos ressonadores, criando uma variação cíclica do volume de cada nota. Surgido no século XX e popularizado por Lionel Hampton e Gary Burton, o vibrafone vem, desde Maurice Ravel – cuja obra foi tão influenciada pelo jazz – imprimindo coloração jazzística à orquestra moderna.

 

 

Marcelo Corrêa
Pianista, Mestre em Piano pela Universidade Federal de Minas Gerais, professor na Universidade do Estado de Minas Gerais.

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