Concerto para violino em lá menor, op. 82

Alexander GLAZUNOV

(1904)

Instrumentação: Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tímpanos, percussão, harpa, cordas.

 

Alexander Glazunov representa a continuidade da tradição musical russa de Tchaikovsky e Rimsky-Korsakov e, ao mesmo tempo, o elo com a nova música soviética de Prokofiev e Shostakovich. Glazunov foi um garoto prodígio: começou seus estudos de piano aos nove anos de idade e, aos onze, realizava suas primeiras composições. Aos quatorze tornou-se aluno de Rimsky-Korsakov e, três anos mais tarde, estreava com sucesso sua primeira sinfonia. A promessa de uma carreira de sucesso se concretizaria logo em seguida, graças a Mitrofan Belyayev, rico comerciante de São Petersburgo que acabara de criar uma editora musical. Belyayev publicava e divulgava, tanto na Rússia como no Ocidente, as obras dos jovens compositores russos, utilizando seus próprios recursos, sem se preocupar com retorno financeiro imediato. Glazunov foi sua maior aposta. Belyayev levou-o em viagem à Europa ocidental para divulgar sua música, quando Glazunov contava apenas dezenove anos. Consagrado internacionalmente aos vinte e quatro anos de idade, o jovem Glazunov tratou logo de compor algumas sinfonias, quartetos de cordas e balés, para fazer jus à fama.

 

Aos trinta e quatro anos tornou-se professor do Conservatório de São Petersburgo e, aos quarenta, seu diretor. Respeitado pelas autoridades soviéticas, conservou o posto de diretor do Conservatório até 1930, embora estivesse vivendo na Europa ocidental desde 1928. Empregou todos os seus esforços para revitalizar o Conservatório: modernizou o currículo, contratou novos professores, protegeu os alunos e empenhou-se profundamente em minimizar a influência do Estado na instituição. Entre seus protegidos estavam Shostakovich e Prokofiev. Em 1928, desiludido com os rumos de seu país, aproveitou uma viagem a Viena e nunca mais retornou, alegando constantemente problemas de saúde para sua demora. No Ocidente, Glazunov continuou a apresentar sua música, embora já compusesse muito pouco. Faleceu em Neuilly-sur-Seine, nos subúrbios de Paris, em 1936, aos setenta anos de idade.

 

Seu Concerto para violino foi composto em 1904 e dedicado ao violinista Leopold Auer. A estreia se deu no início de 1905 pela Sociedade Musical Russa, em São Petersburgo, com Leopold Auer ao violino e direção do compositor. O concerto foi escrito em um único movimento, embora se divida em quatro partes. A primeira parte (Moderato) inicia-se com o primeiro tema, de caráter russo, no violino solista. Violino e orquestra nos conduzem ao segundo tema, uma melodia doce e tranquila. A segunda parte (Andante sostenuto) apresenta um tema derivado do primeiro. A música torna-se cada vez mais agitada para, pouco a pouco, retornar à tranquilidade do início. A terceira parte (Tempo I) nos remete, invariavelmente, à primeira, pois que retornamos ao andamento do início. Com a diferença que, desta vez, somos logo surpreendidos pelo segundo tema, prontamente variado por toda a orquestra. A música do solista que, desde a segunda parte, tornara-se cada vez mais complexa, atinge, desta vez, o extremo da dificuldade técnica, com uma longa cadência escrita pelo próprio compositor. O caráter improvisatório da cadência nos conduz à quarta parte (Allegro), iniciada por uma fanfarra dos trompetes, logo imitada pelo violino solista. O concerto atinge o auge de seu brilho num jogo de perguntas e respostas entre o solista e a orquestra, até o final animado e cheio de vitalidade.

 

Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Composição, professor da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.

anterior próximo