Concerto para violino, op. 33

Carl Nielsen

(1911)

Instrumentação: piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tímpanos, cordas.

 

Carl Nielsen foi um dos mais importantes compositores europeus da virada do século XIX para o XX. Tido como um dos responsáveis pela renovação do gênero sinfônico no início do século XX, Nielsen foi também exímio violinista e um importante pedagogo. Seu reconhecimento internacional veio somente após sua morte. Em vida, foi reconhecido apenas como professor, o que o obrigou a lecionar na Academia Real Dinamarquesa de Música até os seus últimos dias.

 

O rótulo de “compositor dinamarquês” foi sempre ambivalente, pois que serviu, ao mesmo tempo, para promover sua obra e para restringi-la. Pensá-la em termos dinamarqueses é tentar enquadrá-la, à força, em uma cultura rica e dinâmica, porém, em muitos momentos, plena de traços semelhantes aos de outros povos. Dito de outra maneira, é tentar ver a qualquer preço a comunhão de seu estilo com estilos populares aparentemente originários de seu país e pertencentes apenas a ele. No entanto, vê-la nessa moldura nacionalista parece ser a imagem mais óbvia. Não à toa, é a mais repetida. Mas essa visão traz consigo o perigo dos reducionismos fáceis – e isto vale para praticamente todo compositor fora do eixo Alemanha/França/Itália. Quando nos esquecemos, por um momento, da localização geográfica de seu nascimento e conseguimos vê-lo em uma perspectiva mais ampla, que abrange a cena musical erudita na virada do século XX em toda a sua totalidade, nos damos conta do quão original e moderna é a sua música. Obviamente que, para tal, precisamos duvidar da primazia de certas correntes musicais e de certos centros de produção e difusão da música que, por muito tempo, nos foram apresentados como os representantes máximos da cultura ocidental.

 

A escrita solística do Concerto para violino é virtuosística, e sua estrutura, incomum: dois movimentos divididos, cada um, em duas partes, uma lenta e a outra rápida. O primeiro movimento inicia-se com o – às vezes dramático, às vezes lírico – Prelúdio (Largo) e desemboca no Allegro cavalleresco, uma intensa seção em que a meditação cede lugar à vivacidade. O momento mais contemplativo do Concerto acontece no Poco adagio, primeira seção do segundo movimento. O Rondó (Allegretto scherzando), segunda seção, é um alegre scherzo com certo sabor cigano, especialmente na cadência.

 

Nielsen iniciou a composição do Concerto para violino no verão de 1911, na Noruega, na velha cabana onde o compositor Edvard Grieg compôs muitas de suas obras. Naquele verão ele recebeu o convite da viúva do compositor, Nina Grieg, para passar alguns dias em Troldhaugen, a casa de verão que eles possuíam na cidade de Bergen. Nos jardins da casa, hoje um museu, encontra-se a pequena cabana onde Grieg passava longas temporadas compondo. A obra ficou pronta apenas em meados de dezembro, e a bem-sucedida estreia se deu no dia 28 de fevereiro de 1912 em Copenhague, com o violinista Peder Møller e a Orquestra Real Dinamarquesa sob a regência do compositor.

 

Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.

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