As Hébridas, op. 26, “A gruta de Fingal”

Felix MENDELSSOHN

(1830/1832)

Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.

 

Aos vinte anos e já com uma sólida carreira musical em Berlim, Mendelssohn decide empreender uma turnê pela Itália, França e Inglaterra, a fim de ampliar suas experiências musicais e sua formação cultural. A convite do escritor Karl Klingemann, chega a Londres no dia 21 de abril de 1829. Durante o primeiro mês, busca entrosar-se com a sociedade musical local através de apresentações em recepções privadas nas quais é introduzido pelo pianista Ignaz Moscheles. Aproxima-se de outras personalidades musicais, entre as quais o pianista J. B. Cramer e Fétis, eminente crítico musical. Dedica-se à análise dos manuscritos de Haendel e acompanha produções de textos de Shakespeare, autor que inspirara, anos antes, sua primeira abertura, Sonho de uma noite de verão.

 

Em 25 de maio, Mendelssohn sobe aos palcos ingleses pela primeira vez para reger sua Sinfonia em dó menor, op. 11. Logo se segue uma reapresentação, preparando o campo para a première inglesa, em 24 de junho, de Sonho de uma noite de verão. As elogiosas críticas levam à reapresentação da obra em 13 de julho. Nesse período, apresenta-se também como concertista, solando o concerto “O imperador” de Beethoven, o Konzertstück op. 79 de Carl Maria von Weber e seu próprio Concerto para dois pianos em Mi maior, juntamente com Moscheles. No final de julho Mendelssohn deixa Londres e parte com Klingemann para a Escócia. Chega a Edimburgo em 26 de julho e, em 7 de agosto, aporta no arquipélago de Hébridas, na costa oeste. Visita, na inabitada ilha de Staffa, logo no dia seguinte de sua chegada, a gruta de Fingal. Com seus aproximados 11 metros de altura e 69 metros de comprimento, e famosa por suas coloridas colunas de basalto avançando no mar – que ele define como “o mais refinado objeto na natureza” –, Fingal provoca em Mendelssohn tamanha urgência de expressão musical que endereça uma carta à irmã Fanny com o esboço dos 21 primeiros compassos de sua abertura As Hébridas, após os dizeres: “para fazer você entender quão extraordinariamente as Hébridas me afetaram, o trecho seguinte veio em minha mente por lá”.

 

Contudo, a Abertura só foi finalizada no dia 16 de dezembro de 1830, em Roma (coincidentemente, trata-se do único dia no ano em que a incidência de luz solar alcança a angulação necessária para a completa iluminação da gruta). Porém, em janeiro de 1832, antes mesmo que a primeira versão fosse ouvida, Mendelssohn realiza uma primeira revisão da obra que, finalmente, é estreada em 14 de maio de 1832 em concerto em Londres, regido pelo próprio compositor. A obra sofre alterações e mais edições até 1835, quando finalmente é publicada. Seu título, que inicialmente oscilou entre “A ilha solitária” e “As Hébridas”, acabou fixado na publicação como “A gruta de Fingal”, embora nas partes orquestrais leia-se impresso “As Hébridas”.

 

Em As Hébridas, Mendelssohn alia “musicalidade imagética” e primazia técnica, estabelecendo definitivamente o gênero abertura tal como o conhecemos hoje.

 

Igor Reyner
Pianista, Mestre em música pela UFMG, doutorando de Francês no King’s College London e colaborador do ARIAS/Sorbonne Nouvelle Paris 3.

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