Ritual, op. 103

Lindembergue Cardoso

(1987)

Instrumentação: Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, 2 trombones, tuba, tímpanos, percussão, cordas.

 

O compositor Lindembergue Cardoso formou-se no contexto dos Seminários Livres de Música da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que, nas décadas de 1950 e 1960, em razão de convergência de pensamento e atitudes políticas de vanguarda, deslocaram o eixo da modernidade no país, criando um movimento cultural de extraordinária força criadora.

 

Vindo da pequenina Livramento de Nossa Senhora, na Chapada Diamantina, onde desde menino já tocava em banda de música e praticava a música de bailes, de banda de pau e corda, chorinho – ampliando sempre seu domínio dos instrumentos –, Lindembergue chegou a Salvador em 1957, para terminar o curso secundário e cuidar da vida. Aos dezoito anos, foi logo levado a conhecer os Seminários de Música e ali se integrou como aluno, descobrindo a música erudita, o dodecafonismo, o serialismo, a prática da música renascentista, a própria orquestra sinfônica. Toda a música popular do interior da Bahia e a influência da cultura africana estavam sempre presentes e eram valorizadas.

 

O reitor Edgar Santos dera carta branca ao professor H. J. Koellreutter para a criação dos Seminários e para escolher seus auxiliares. Os notáveis professores europeus chamados por Koellreutter se tornaram os baianos mais fervorosos – como Ernst Widmer, Piero Bastianelli, Walter Smetak e tantos outros. Foram eles os formadores dos jovens da Bahia que, a exemplo de Lindembergue, se tornaram compositores: Jamary Oliveira, Fernando Cerqueira, Alda Oliveira, Rinaldo Rossi, entre outros, além do argentino Rufo Herrera e do mineiro Marco Antônio Guimarães. Quando se formou o famoso Grupo de Compositores da Bahia, já estavam todos integrados, professores e discípulos. Widmer e Lindembergue concorriam nos festivais da Guanabara de igual para igual.

 

Lindembergue Cardoso foi um dos talentos mais fascinantes desse grupo. Sem limites em suas experiências criativas, em que utilizava, além da música, recursos visuais e cênicos, deixou uma obra numerosa e diversa. Foi professor da Escola de Música da Universidade da Bahia, na qual se transformaram os Seminários, e regente do Madrigal da UFBA. Sua participação inúmeras vezes como professor dos festivais de inverno em Ouro Preto e Diamantina levou-o a uma colaboração intensa e múltipla com o Grupo Giramundo de teatro de bonecos. Para esse grupo compôs, entre outras partituras notáveis, a obra- prima Cobra Norato.

 

Em seu extenso catálogo figuram missas, cantatas, muita música de câmara e orquestral, composições e arranjos para coro e uma ópera – Lídia de Oxum.

 

A obra sinfônica Ritual foi composta e estreada em 1987, na Segunda Semana de Música Contemporânea, em Salvador. Como característica de sua produção, também neste Ritual existe um especial conteúdo de comunicabilidade. Lindembergue introduz na orquestra um rico instrumental de percussão típico, como atabaque, agogô e outros. A composição, de grande força e solenidade, se baseia no clima ritualístico do candomblé, apresentando estruturação rítmica de notável expressividade.

 

Berenice Menegale
Pianista, fundadora e diretora da Fundação de Educação Artística.

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