O Café: Suíte de Balé

Claudio Santoro

Escrita em 1953 e dedicada ao maestro Edoardo de Guarnieri, a Suíte de Ballet O Café é composta de três movimentos – Abertura, Lento e Final –, tendo sido estreada pela Orquestra da Rádio Clube do Brasil sob a regência do autor no mesmo ano de sua concepção.

 

A obra situa-se já dentro da fase nacionalista do autor, fato sobejamente demonstrado pelo título. A preocupação com temas de interesse nacional era uma constante nos intelectuais da época: músicos, pintores, escritores, jornalistas. Temos, como exemplo mais conhecido, o quadro homônimo “O Café”, de um metro e trinta centímetros de altura por um metro e noventa e cinco centímetros de largura, pintado com tinta a óleo sobre tela de tecido, em 1935, por Candido Portinari, retratando uma cena de colheita típica de sua região de origem e que conquistou a Segunda Menção Honrosa na exposição internacional do Carnegie Institute de Pittsburgh, Estados Unidos. Como Santoro e o maestro Edoardo de Guarnieri, Portinari era filiado ao Partido Comunista Brasileiro.

 

O ano de 1953 foi igualmente o ano em que Claudio Santoro fez sua primeira viagem à União Soviética e o ano de composição de três obras muito significativas para a música brasileira: a Quarta Sinfonia, com coros, o terceiro Quarteto de Cordas e o Ponteio, para orquestra de cordas.

 

Edoardo de Guarnieri era paulista e, embora nascido no Amazonas, Claudio Santoro – cuja opção política manifestou-se um entrave em sua carreira, impedindo-o de exercer a profissão por ocasião de sua volta de Paris, onde fora estudar regência – esteve envolvido na criação de gado leiteiro por quase dois anos, administrando uma antiga fazenda de café em São Paulo. Daí, talvez, a escolha do tema, caro a intelectuais de esquerda e que passou a fazer parte de uma vivência pessoal do compositor.

 

Embora tenha sido pensada para dança, a obra nunca foi coreografada e estava praticamente esquecida. Dessa forma, é digno de nota e de louvor a iniciativa da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais e do maestro Fabio Mechetti de nos devolver este testemunho de uma época, de um pensamento e de um período importante na obra musical de Claudio Santoro.

 

Gisèle Santoro

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