A Sereia

Alexander von ZEMLINSKY

(1902/1903)

Instrumentação: 2 piccolos, 4 flautas, 2 oboés, corne inglês, requinta, 3 clarinetes, clarone, 3 fagotes, 6 trompas, 3 trompetes, 4 trombones, tuba, tímpanos, percussão, 2 harpas, cordas.

 

Originária de Sarajevo, a mãe de Alexander von Zemlinsky descendia de um judeu sefardim e de uma muçulmana da Bósnia. O pai era filho de imigrante eslovaco e de mãe austríaca. A família converteu-se à religião judaica em 1870, pouco antes de Alexander nascer, em Viena. Aos quatro anos o menino começou a demonstrar habilidade ao piano. Em 1886, matriculou-se no Conservatório de Viena para estudar piano, harmonia, contraponto e composição. Seus mestres para composição foram Johann Nepomuk Fuchs e Bruckner.

 

Em 1893, as obras de câmara de Zemlinsky começaram a ser executadas pela orquestra Wiener Tonkünstlerverein. Impressionado com o que ouvira, Johannes Brahms recomendou o jovem autor a seu editor. Entre 1895 e 1896, iniciando uma carreira de regente de grande prestígio, Zemlinsky dirigiu a orquestra Polyhymnia, na qual Arnold Schoenberg era um dos violoncelistas. Em razão dessa circunstância, e a partir de uma relação informal entre professor e aluno (como único desvio na orientação autodidata de Schoenberg, Zemlinsky lhe deu aulas de contraponto), os dois tornaram-se amigos. Zemlinsky orientou Schoenberg na composição do Quarteto de cordas em ré menor (1897), e Schoenberg dedicou as Duas canções, op. 1 (1898) ao “professor e amigo”. Por outra parte, Zemlinsky contou com a colaboração de Schoenberg na preparação da parte vocal da ópera Sarema, com a qual ganhou o prêmio Luitpold em 1896. Em 1900, a segunda de suas oito óperas, Era uma vez, estreou em Viena sob a regência de Gustav Mahler.

 

Quando, em 1901, Arnold Schoenberg esposou Mathilde, irmã de Zemlinsky, este estava apaixonado por Alma Schindler. A Sereia constitui a primeira reação musical do compositor à rejeição da mulher que, em 1902, viria a se casar com Gustav Mahler.

 

As primeiras obras de Zemlinsky sugerem uma espécie de acordo entre as influências de Wagner e Brahms. As óperas Sarema e Era uma vez já revelavam seu talento para a cor e para o desenvolvimento do drama. Com A Sereia, sua música torna-se febril. A composição dessa fantasia sinfônica, inspirada em Andersen, foi iniciada em 1902 e concluída em 1903. O autor estreou-a em 25 de janeiro de 1905, juntamente com Pelléas et Mélisande (poema sinfônico, op. 5), de Schoenberg. Seguiram-se apresentações em Praga e Berlim.

 

Ao fugir da perseguição nazista, Zemlinsky asilou-se em Nova York em 1938. Viajou para a América abandonando o terceiro movimento de A Sereia na Europa. Em 1984, a partitura foi finalmente reunida e executada pela quarta vez.

 

O primeiro movimento apresenta a sereia no mar, o salvamento do príncipe, e sua decisão de deixar o oceano por ele. O segundo descreve o encontro com a feiticeira, que lhe corta a língua em troca de uma aparência humana, para que chegue ao palácio e aí encontre o príncipe e noivo. O terceiro movimento expressa o retorno ao oceano, a transformação em espuma e a dissolução da espuma pelo vento.

 

Carlos Palombini
Musicólogo, professor da Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais.

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