Sinfonia nº 1 em si bemol menor

William Walton

(1931/1935, revisão 1968)

Instrumentação: Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, cordas.

 

Desde a morte de Purcell, em 1695, passaram-se quase dois séculos sem que a Inglaterra (que outrora tivera influentes músicos medievais e renascentistas) produzisse um compositor à altura de seus contemporâneos continentais. O império britânico, paralelamente ao grande desenvolvimento econômico, tornara-se notável importador de talentos, desenvolvendo suas manifestações musicais em torno, sobretudo, de compositores e empresários estrangeiros.

 

A partir do século XIX, os ingleses consolidaram iniciativas sociais que viabilizavam o acesso da população à cultura musical. Inúmeros corais formaram-se em cidades provincianas; os primeiros concertos populares foram criados em Londres e em Manchester e os Promenade Concerts tornaram-se uma tradição na vida musical britânica (atualmente sob a coordenação da BBC). Frutos dessa efervescência cultural, surgiram os primeiros compositores ingleses modernos, cujas obras conquistaram um lugar permanente no repertório sinfônico internacional, como Elgar, Vaughan Williams, Walton e Britten.

 

Autodidata, Walton afastou-se do folclorismo natal (então muito cultivado por seus pares) e deixou-se influenciar por outras correntes europeias. Tornou-se conhecido, aos vinte anos, com Façade, para recitante e seis instrumentos, obra associada à estética do francês Jean Cocteau, mentor do Grupo dos Seis. Foi também orientado por Busoni e Ansermet. Sua produção posterior, mais comportada e perfeccionista, é relativamente pequena, mas abrange vários gêneros: duas sinfonias, duas óperas, um oratório, três concertos (viola, violino e violoncelo), música de câmara e canções. Compôs também para o cinema, com destaque para a música dos filmes da trilogia shakespeariana do ator e diretor Lawrence Olivier (Ricardo III, Henrique V e Hamlet).

 

A Sinfonia nº 1, composta aos 31 anos, possui grandes dimensões. O poderoso Allegro assai inicial foi, a princípio, pensado como um movimento sinfônico independente. Constrói-se com grande vigor rítmico, impulsionado por tensos ostinatos que se apaziguam em apenas dois momentos meditativos (meno mosso). O colorido orquestral é brilhante.

 

O segundo movimento, Presto, con malizia, é um scherzo construído sobre dois temas. O primeiro, sincopado, gira sempre sobre si mesmo; o segundo possui vigoroso ritmo jâmbico. A orquestração inclui golpes de tímpanos, trompas com surdina e madeiras estridentes. De maneira inusitada, o compasso de três tempos eventualmente se desestabiliza em um 5/4.

 

O Andante con malinconia desenha longa melodia, partindo do tema inicial da flauta. Esse tema reaparece ao final, após o ponto culminante do tutti orquestral.

 

Uma grande fanfarra (Maestoso) abre o último movimento. Bruscamente, uma sucessão exuberante de ritmos cria irresistível clima dançante (Allegro brioso ed ardentemente). Segue-se a enérgica fuga, cuja força adicional equilibra o final da Sinfonia ao peso de seu primeiro movimento. Um fantástico scherzo (Vivacissimo) antecede a retomada do Maestoso inicial, que, devidamente variado, adquire convincente caráter conclusivo.

 

Paulo Sérgio Malheiros dos Santos
Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado. Apresenta o programa semanal Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.

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