Suíte Karelia, op. 11

Jean SIBELIUS

(1893)

Instrumentação: piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, cordas.

 

Não foi por acaso que a Suíte Karelia tornou-se uma das obras mais conhecidas de Sibelius. Essa peça leve e encantadora guarda o frescor da música folclórica finlandesa do final do século XIX. Na última década do século, os movimentos políticos e artísticos de cunho nacionalista surgidos na Finlândia tinham a província de Carélia como alvo de veneração. Situada no sudeste da Finlândia, próxima à fronteira com a Rússia e não muito longe de São Petersburgo, essa província, especialmente a região em torno da cidade de Viipuri (hoje Vyborg, na Rússia), era considerada, na época, como o local que melhor preservava as tradições musicais e poéticas finlandesas.

 

No verão de 1892, Sibelius e sua esposa passaram parte da lua de mel em Carélia, onde o compositor tomou conhecimento da música folclórica local e teve a oportunidade de anotar inúmeras melodias. No ano seguinte ele recebeu uma encomenda da Associação dos Estudantes de Viipuri da Universidade de Helsinki (na época Universidade Imperial Alexander) para compor música para uma peça de teatro de caráter folclórico/patriótico que retratava eventos históricos de Carélia. Compôs uma abertura e oito movimentos, um para cada episódio, fortemente inspirados na música folclórica da região. A apresentação em Helsinki, no dia 13 de novembro de 1893, foi um sucesso estrondoso, embora o compositor tenha ficado com a impressão de que ninguém realmente ouvira a sua música. O frenesi foi tão grande que o público bateu os pés e as mãos durante toda a apresentação. Insatisfeito com o resultado musical, Sibelius desmembrou a música e a adaptou em uma abertura (Abertura Karelia, op. 10) e uma suíte em três movimentos (Suíte Karelia, op. 11). O restante da obra ficou abandonado, vindo a ser descoberto após a morte do compositor e restaurado em 1997 – mais de cem anos após a sua composição.

 

O primeiro movimento inicia-se tranquilo, com o tema principal nas trompas. A calmaria do início aos poucos se transforma numa corrente de festividade, no momento em que a música se torna cada vez mais dançante. Ao final retornamos ao caráter do início.

 

No segundo movimento a orquestra é reduzida a apenas dois oboés, um corne inglês, dois clarinetes, dois fagotes e cordas. Ou seja, não apenas a ausência das flautas é percebida, como de todos os metais e percussão. Trata-se de uma música meditativa e ligeiramente melancólica. À medida que nos aproximamos do fim, ouvimos o corne inglês, que, com suas características sonoras ímpares, confere ainda mais melancolia ao tema principal.

 

O terceiro movimento inicia-se com leveza, quase como uma valsa, e torna-se, aos poucos, uma marcha imponente e majestosa. Aqui temos a orquestra completa novamente, mas sem o corne inglês e com acréscimo do flautim. Uma orquestra com toda a sua pujança para uma música que se torna cada vez mais vigorosa, porém sem perder o frescor de uma composição realizada por um jovem que tinha apenas 28 anos de idade na época.

 

Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.

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