Sinfonia nº 5 em Ré maior

Ralph Vaughan Williams

(1938/1943, revisão 1951)

 

Instrumentação: Piccolo, 2 flautas, oboé, corne inglês, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tímpanos, cordas.

 

À sua maneira, Ralph Vaughan Williams sempre escreveu música tradicional, em pleno século XX. Talvez, por isso, sua projeção internacional tenha sido difícil e tardia. Considerado inicialmente apenas um compositor promissor, a onda modernista que varreu a Europa por volta dos anos 1910 não o envolveu. Nos anos 1930, quando quase todo grande compositor converteu-se ao neoclassicismo, Vaughan Williams passou a ser reconhecido. Na década de 1950, já era tido nos meios eruditos da Europa como o maior compositor vivo de seu país, chefe da escola nacional inglesa. Interessava-se pelo folclore britânico, do qual recolheu grande número de temas que veio a utilizar em muitas de suas obras, a exemplo do que Bartók realizou em relação ao folclore húngaro e de outros países da região.

 

No cenário musical dos anos 1980, quando o novo e o revolucionário já não eram os únicos valores a serem levados em consideração, a música de Vaughan Williams encontrou seu lugar definitivo no repertório internacional. Talvez porque o público estivesse mais receptivo a uma pluralidade de estilos, sua música, desde então, tem sido reconhecida, com justiça, pelas qualidades que sempre teve.

 

Vaughan Williams compôs nove sinfonias, além de óperas, balés, concertos, música de câmara e um número enorme de canções e peças sacras. Em suas obras está evidente sua ligação visceral com a grande tradição da música elisabetana, usando frequentemente, mas com liberdade, formas características de seus predecessores daquela época de ouro da música inglesa.

 

A Sinfonia no 5 foi composta entre 1938 e 1943, portanto, durante a guerra. Muito do seu material é derivado da sua ópera, então inacabada, The Pilgrim’s Progress (a ópera foi concluída em 1949, mais de quarenta anos após os primeiros esboços). A estreia da Sinfonia se deu em 24 de junho de 1943 em um dos concertos da série BBC Proms, no Royal Albert Hall, em Londres, com a Orquestra Filarmônica de Londres sob a regência do compositor.

 

Escrita em quatro movimentos, o primeiro (Prelúdio) funciona como uma espécie de grande abertura meditativa para a Sinfonia e termina como um hino de paz. E um Scherzo surge, colocado aqui como segundo movimento, e não terceiro, como se fazia no século XIX. Com sua vivacidade típica, a rítmica do scherzo parece vir à tona e tomar o lugar da melodia. O terceiro movimento (Romanza) é o mais lírico dos quatro e uma das mais belas músicas escritas por Vaughan Williams. Nele, as relações temáticas entre a Sinfonia e a ópera citada são mais evidentes.

 

O quarto movimento é intitulado Passacaglia, como referência àquele seu profundo interesse pela música da época elisabetana. O movimento se inicia como uma autêntica passacaglia (gênero musical característico do Barroco, em que um tema na voz do baixo é insistentemente repetido, dando origem a variações nas vozes superiores). Logo o autor passa a tratar com liberdade as variações, com transformações radicais, incluindo reminiscências do primeiro movimento. Na verdade, a intenção de Vaughan Williams, como artista, é buscar seu próprio meio expressivo, ao invés de simplesmente repetir uma prática do passado.

 

Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.

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